Assuntos: Este ano no País e no Mundo e Outras notícias

01-01-2014 19:39

COMENTÁRIO ESTRATÉGICO 188

29 de dezembro de 2013

 

Por. Cel. Gelio Fregapani 

Articulista e Colunista do site. 

 

Este ano, no País

          1 - As manifestações de junho e julho evidenciaram o clima de mal estar causado pela corrupção generalizada. Por um momento assustou a classe política, mas as depredações afastaram o povo ordeiro das ruas e esvaziou o movimento, até então popular. Ainda que tenham manifestado insatisfação, as manifestações não tocaram nos verdadeiros problemas nacionais. O julgamento do mensalão expôs as entranhas da politicalha aumentando nosso desprezo pelas instituições, mas pela primeira vez foram castigados os corruptos, prenunciando uma mudança de comportamentos.

2 - Fingindo buscar justiça para minorias, as cotas para negros e a ampliação desproporcional das reservas indígenas visam nos separar em etnias hostis, tiveram sucesso em criar as bases para dividir o nosso País em pequenas nações étnicas, segundo a orientação estrangeira. O movimento indigenista estendeu suas atividades por todo o País e provocou tantas invasões e outros malfeitos que já se esboçou certa reação armada.No Rio Grande do Sul o povo de uma cidadezinha expulsou os índios invasores de um logradouro. No longínquo Amazonas a população de Humaitá, inconformada com os desmandos da Funai, reagiu  queimando a sede, viaturas e embarcações daquele nefasto órgão e da também a Funasa e pôs para correr os cem homens da Policia Militar que os defendiam, aliás sem entusiasmo, pois ne nhum patriota tolera mais a Funai e a política indigenista. Como esperado, a Funai apelou para que os índios a defendessem. Furiosa a população voltou-se contra eles, que se homiziaram em um quartel do Exército para não serem agredidos e entre a população revoltada se encontravam inúmeros mestiços e muitos índios aculturados, que são discriminados pela Funai por não rezarem pela cartilha dela, mas é no Mato Grosso do Sul que está sendo montada a maior resistência, que pode servir de espoleta para a explosão planejada pela oligarquia financeira internacional.  

3 - Ainda que timidamente o Governo inicia a compreender que o problema ambiental está sendo usado contra o País. Derrubou a ação que impedia os trabalhos pela hidrovia Paraguai-Paraná apesar do barulho das ONGs internacionais e também as que paralisavam Belo Monte, mas o transporte dos reatores importados para o Complexo Petroquímico de Itaboraí que deveria estar refinando 165 mil barris diariamente desde setembro está travado pelo Ministério do Meio Ambiente, por cruzar uma área de “proteção ambiental”, mas é pouco pois ou o Governo controla o Ibama , Funai e as ONGs ou isto conduzirá a revolta e a violência. Aí então, quem gostar de aventura não terá motivo de queixa.

4 - Correm rumores, provavelmente verdadeiros, que a oligarquia financeira mundial teria decidido acabar com o atual domínio do PT na política nacional, certamente motivada pelas (tímidas) medidas nacionalistas do Governo. Estando a economia declinante, com a imprensa incentivando o nosso complexo de vira-lata, com as nossas contradições e com a falta de pulso para conter as ações das ONGs, a oligarquia internacional terá grande possibilidade de ser bem sucedida entretanto, os outros partidos não são melhores e os atuais candidatos ainda piores.

 

 

No mundo verificaram-se fatos decisivos:

         1º - A ofensiva militar dos Estados Unidos pelo petróleo, iniciada nos anos 1990  encontrou pela primeira vez uma barreira que não pôde transpor, sua intervenção na Síria não pôde passar à etapa da ação direta, como  acontecera antes, na Iugoslávia, Iraque, no Afeganistão e na Líbia. A oposição da Rússia impediu a intervenção na Síria em setembro. Foi quase um renascimento da guerra-fria, não mais ideológica e marcou, se não um enfraquecimento estratégico dos EUA, pelo menos o fim de seu poder absoluto. No Oriente Médio e Ásia Central os aliados tradicionais dos EUA - Arábia Saudita, Israel e Turquia sentiram-se órfãos. Foi um duro golpe à imagem de onipotência da máquina militar dos EUA e do conjunto de interesses econômicos e políticos vinculados à mesma, enquanto aumentou a influência da Rússia. O fato é que  uma dúvida sobre a eficácia do principal instrumento de dissuasão dos Estados Unidos causa um  desconcerto estratégico que altera a percepção do que pode acontecer.

Mais grave é a recente disputa entre a China e o Japão por pequenas ilhas desabitadas, que apresenta potencial de conflito armado. Neste caso como fica o tratado  que os EUA garantiriam a defesa do Japão? E a aliança da Rússia com a China? Arriscar-se-ão eles a uma guerra que poderá se global por uns rochedos inúteis que ninguém sabe de quem são ou preferirão perder a credibilidade de seus tratados ante seus aliados?  Não se trata de um simples deslocamento de influências mas, também de um dilema portador do futuro.

2º- Com a ameaça de cessação de pagamentos do estado norte-americano, em Outubro, pela segunda vez nesta década, os Estados Unidos estiveram à beira do descumprimento da dívida pública federal que atingiu a algo mais de 360% do PIB, evidenciando uma deterioração político-institucional. Se essa “bomba” financeira houvesse explodido teria produzido uma catástrofe financeira global sem precedentes e certamente naufragado a economia dos EUA na hiper recessão, e não somente ela. Agora todos esperam o próximo jogo do descumprimento sem que se saiba em que pode terminar.

- Os dois fatos – a contenção político-militar na Síria mais a ameaça de descumprimento estimulam o esgotamento da atual unipolaridade e impulsionam o avanço de pelo menos duas potências que aspiram um papel global destacado: a Rússia e a China, tendendo a construção de um mundo multipolar, ou seja, a repartição do planeta entre um grupo reduzido de impérios. Contudo, nem uma, nem as três super-potências garantirão controlar o sistema global. A despolarização é um fenômeno complexo, onde algumas potências retrocedem e outras avançam, onde algumas aparentam recuperar-se para a seguir voltar a declinar, outras parecem escapar da onda depressiva para mais adiante sofrer os impactos das forças entrópicas globais. É necessário entender os pormenores e as especificidades sem perder de vista o panorama mais amplo. A ilusão de menos imperialismo, com mais autonomias nacionais ou regionais articuladas expandindo suas forças produtivas pode não ser tão cor de rosa. A realidade apresenta a marcha rumo a convulsões cada vez maiores, à generalização da desordem e a economia tendendo ao caos, com o capitalismo em vias de esgotamento apresentando horizontes futuros de barbárie em busca de um novo equilíbrio.

No próximo ano será verificado até que ponto a propaganda sobre o gás do xisto nos EUA corresponde a realidade. Caso corresponda totalmente os EUA terão condições de manter sua supremacia por longo tempo. Caso se revele apenas um blefe, os acontecimentos se precipitarão. O mais provável é que se situe no meio termo.

Neste ambiente de incerteza, a melhor política para o nosso País seria esquecer a globalização e tornar-se tão autárquico quanto possível. Temos tudo para viver bem sozinhos e até disponibilidade para auxiliar os demais, desde que criemos força militar, inclusive nuclear, suficiente pata dissuadir ambiciosos e desesperados.

Caso atinjamos um dia tal cenário ideal teremos então que cuidar de evitar a armadilha em que caiu os Estados Unidos da América: Querer impor aos demais o seu estilo de vida enquanto suga impiedosamente seus recursos. 

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Outras notícias nacionais

1 - Aparentemente será substituído o atual Ministro da Defesa por um que se interessa realmente pelo poderio militar. O ministro Amorim assinara a convenção dos direitos dos povos indígenas, uma verdadeira traição e depois disto não tinha como se recuperar perante seus comandados. Diferente será com seu provável substituto, um verdadeiro nacionalista, muito considerado pelos militares que o conhecem. Seja bem-vindo Ministro Gabbas.

 

2 - A maior preocupação dos que pensam no Brasil é com o comprometimento de candidatos com o paralisante programa da Marina Silva, na ânsia de cabalar seus votos. Para contrabalançar a influência dela será lançada a candidatura de Ronaldo Caiado, que falará do Estado de Direito, do fim da impunidade,do combate às invasões e do direito às pessoas de bem a defenderem sua família e sua propriedade com o mesmo tipo de armas que os bandidos usam. Se, como esperado, o programa dele tiver mais apelo popular do que o da internacionalista Marina, no mínimo contrabalançará a influência dela. A demora do Governo em controlar as demarcações de terras indígenas é hoje o principal fator de afastamento do mundo rural da campanha pela reeleição e o que mais tende a aproximá-los dos outros presidenciáveis.

 

3 - A Dívida Pública manipulada nos impôs em 2012 uma sangria R$ 750 bilhões, (44% do orçamento) somente com os juros. Não temos os dados de 2013, mas com certeza o estrago foi maior. Enquanto não baixarmos os juros e não nos livrarmos da dívida nenhum governo pode dar certo, mas isto só conseguiremos se unidos. Lamentavelmente setores da esquerda revanchista insistem em provocar a nossa divisão, a ponto de só nos restar arreganhar os dentes e morder. O pior é que isto não ajuda em nada

Não havendo algo de muito importante, voltaremos a nos ligar em fevereiro. Que Deus os acompanhe no novo ano e que proteja o nosso País

Gelio Fregapani

 

ADENDO

 

 

 

 

 

 

Da geopolítica do petróleo para a do gás

 

 

Por Imad Fawzi Shueibi

 

 

Imad Fawzi Shueibi:  geopolítico e filósofo. Presidente do centro de documentação e estudos estratégicos de Damasco - Síria.

 

  

 agressão midiática e militar contra  Síria está diretamente relacionada com a concorrência global pelos recursos energéticos, explica o Professor Imad Shuebi no magistral  artigo que apresentamos hoje.

Nesse exato momento em que assistindo ao colapso da zona do euro, e que uma grave crise econômica levou os Estados Unidos a acumular uma dívida superior a 14.940 bilhões de dólares; no  momento em que a influência americana declina em contraste com os países emergentes que conformam o Brics, se faz evidente que a  chave para o exito econômico e o predomínio político reside principalmente no controle da energia do século XXI:  o gás
A Síria tornou-se alvo  justamente por estar no meio do mais importante reservatório de gás do planeta. O petróleo foi a causa das guerras do século XX. Hoje estamos vivendo  o surgimento de uma nova era: a da guerras do gás.

 

 

Após a queda  da União Soviética, ficou claro para os russos que a corrida  armamentista  havia lhes prejudicado em demasia  , sobretudo no campo energético, onde  faltou a energia  necessária ao processo de modernizaç ão industrial do país. Os  Estados Unidos, por outro lado, tinham conseguido se desenvolver e impor, sem muitas dificuldades,  sua política internacional nesta área graças a sua presença por décadas nas áreas de petróleo. Os russos decidiram, em seguida, posicionar-se nas  fontes de energia, tanto nas que produzem petróleo,  como nas empresas de produção de gás. Considerando que, devido à sua distribuição internacional, o setor de petróleo não oferecia boas perspectivas, Moscou apostou  pelo gás , por sua produção, seu transporte e sua comercialização em larga escala. Tudo começou em 1995, quando  Vladimir Putin traçou a estratégia da Gazprom: partindo desde as áreas de produção de gás da Rússia até Azerbaidjão, Turcomenistão, Irã (para comercializaà �ão), até o Oriente Médio. A verdade é que os projetos North Stream e South Stream  demonstraram os esforços de Vladimir Putin e seu governo de situar  a Rússia na arena internacional  na área energética,  que já desempenha um papel importante na economia européia, que, durante as próximas décadas,  dependerá do gás como alternativa ao petróleo ou como complemento deste, quando deu prioridade ao gás, em detrimento dopetróleo.

 

A partir desse contexto, era urgente para Washington implementar  seu próprio projeto:  Nabbuco , uma estratégia que concorria com a dos  russos e que jogava para desempenhar um papel decisivo na determinação da estratégia e política energética para os próximos 100 anos.

 

Fato é que o gás será a principal fonte de energia do século XXI, uma alternativa diante da redução das reservas mundiais de petróleo e, ao mesmo tempo, uma fonte de energia limpa.O controle das zonas gasíferos no mundo disputado entre as antigas potências e as emergentes é o elemento que dá origem a um conflito internacional com manifestações de caráter regional.

 

É evidente que a Rússia  aprendeu com as  lições do passado, pelo menos no que se refere aquilo que,  do ponto de vista da economia,   contribuiu para o  colapso da União Soviética , que foi, precisamente,  a falta de controle dos recursos de energia  indispensáveis para   o desenvolvimento da estrutura industrial.  A Rússia compreendeu  que o gás está destinado a ser a fonte de energia do próximo século.

 

 

 

A historia da “partida de xadrez” do gás

 

 

Vladimir Putin y Alexei Miller, presidente de Gazprom.

 

 

Um primeiro olhar para o mapa do gás revela que este recurso está localizado nas seguintes regiões, o mapa diz respeito tanto à situação dos depósitos como ao acesso as áreas de consumo:

1.          Rússia: Vyborg e Beregvya 2.  Anexo  a  Rússia: Turcomenistão 
3.  Nos arredores mais ou menos imediatos da Rússia: Azerbaidjão e Irã 

2.         
4.  Ex influência da Rússia: Geórgia

3.           
5.  Mediterrâneo Oriental: Síria e Líbano 


6.  Catar e Egito.

Moscou trabalhou rapidamente sobre dois eixos: o primeiro foi a criação de um projeto sino-russo  de longo prazo, com bases no  crescimento econômico do Bloco de Shangai; o segundo foi garantir o controle das reservas de gás. Com este desenho,  foram  assentadas as bases dos projetos North Stream South Stream que se confronta com o projeto americano Nabucco, projeto apoiado pela União Europeia, com vistas ao gás do mar Negro e do Azerbaidjão. Uma corrida estratégica para o controle  das reservas de gás se  estabeleceu  entre os dois projetos distintos.



Os Projetos da Rússia:

O projeto North Stream conecta diretamente a Rússia com a Alemanha através do mar Báltico, até Weinberg e Sassnitz, sem passar pela Bielorússia. O projeto South Stream começa na Rússia, atravessa o m ar Negro até a Bulgária e se divide passando pela  Grécia e pelo Sul da Itália, por um lado, e pela Hungria e a Áustria, por outro lado.



O projeto dos Estados Unidos:

O projeto Nabucco  parte da Ásia Central e dos arredores do mar Negro, passando através da Turquia - onde situa-se a infra-estrutura de armazenamento - , e corta a Bulgária, passa pela Roménia, Hungria e chega até a Áustria, de onde é direcionado para a República Checa, Croácia, Eslovênia e Itália. Originalmente, deveria passar pela Grécia, idéia que foi abandonada devido à pressão da Turquia.

Por suposição, "Nabucco" deveria ser o concorrente para os projetos dos russos. Nabucco estava previsto para 2014, mas diversos problemas técnicos provocaram seu adiamento até 2017. A partir desse adiam ento, o projeto Russo começou a ganhar  a batalha pelo gás, mas cada  parte trata  sempre de estender seu próprio projeto para novas áreas.

Isso tem haver, por um lado com o gás iraniano, que os Estados Unidos pretendia incorporar ao projeto Nabuccoconectando-o ao ponto de armazenamento de  Erzurum, na Turquia. E, também, com o gás vindo do Mediterrâneo Oriental, ou seja, Síria, Líbano e Israel.

Em julho de 2011, Iran firmou vários acordos para o transporte do seu gás através do Iraque e da Síria. Por conseguinte, Síria tornou-se o principal centro de armazenagem e de produção, vinculado, também,  com as reservas do Líbano. Se abre assim um espaço geográfico, estratégico e  energético completamente novo, que abarca Iran, Iraque, Síria e o Líbano. 

Os obstáculos que  esse novo  projeto (Nabucco) enfrenta,  há mais de um ano, dão uma idéia do grau de intensidade na luta que o império está travando  pelo controle da Síria e do Líbano. Ao mesmo tempo, esclarece o papel da França, que considera o Mediterrâneo Oriental  sua própria zona de influência histórica, por conseguinte,  destinada a satisfazer os interesses franceses, logo, isso justifica precisamente, recuperar o terreno perdido desde II Guerra Mundial. Em outras palavras, a França pretende desempenhar um papel importante no mundo do gás, para isto já adquiriu um tipo de “seguro saúde”, com a  Líbia, agora,  pretende obter um «seguros de vida» que somente as riquezas da Síria e do Líbano podem proporcionar. Turquia, por seu lado, se sente excluída desta guerra do gás devido ao atraso do projeto Nabucco e porque não tem nada a ver com os projetos South e North Stream. O gás do Mediterrâneo Oriental parece lhe escapar inexoravelmente a medida que se afasta do projecto Nabucco.

 

 

 

O Eixo Moscou-Berlim

 

 

 Gerhard Schroeder e Alexei Miller. Em 30 de março de 2006, ex-chanceler alemão foi nomeado chefe da construção do North Stream.

Para realizar os dois projetos, Moscou criou a empresa Gazprom, em 1990. Alemanha, ansiosa por se livrar de uma vez por todas das consequências da Segunda Guerra Mundial , se preparou para se juntar aos dois projetos, tanto em termos de instalações e de revisão do gasoduto norte e as instalações de armazenamento do duto de South Stream em sua área de influência, p rincipalmente na Áustria. 

A empresa Gazprom foi fundada com a colaboração de Hans-Joachim Gornig, um alemão conhecido em Moscou, ex-vice presidente da Companhia alemã de Petróleo e gás industrial que supervisionou a construção da rede de gasodutos RDA . Até outubro de 2011, o diretor da Gazprom foi Vladimir Kotenev, ex-embaixador da Rússia na Alemanha. 
Gazprom assinou diversas transações com empresas alemãs, em primeiro lugar com aquelas que cooperam com o projeto No rth Stream, como as gigantes  E.ON, do setor de energia, e  BASF, do setor da indústria química. No caso da E.ON, existem cláusulas que garantem tarifas preferenciais quando há alta dos preços. Isso significa uma espécie de subsídio “político” da Rússia às empresas de energia alemãs. 

Moscou aproveitou a liberalização dos mercados europeus do gás para forçá-los a desconectar as rede de distribuição das instalações de produção. Superados os confrontos antigos entre a Rússia e Berlim , abriu-se uma fase de cooperação econômica baseada em facilitar a enorme dívida que pesava sobre os ombros da Alemanha, de uma Europa excessivamente  endividada pelo domínio  americano. Se trata de uma Alemanha que considera que o espaço germânico (Ale manha, Áustria, República Checa e Suíça) está destinado a converter-se no centro da Europa, sem ter de suportar as conseqüências do envelhecim ento de todo o continente, ou da queda de outra superpotência. 

As  iniciativas alemãs de Gazprom empresa conjunta (joint venture) da Wingas com Wintershall, uma subsidiária da BASF,  é a maior produtora de petróleo e gás da Alemanha e controla 18% do mercado de gás. Gazprom outorgou aos seus principais parceiros alemãs participação em seus ativos russos, nunca visto anteriormente. Assim, BASF e E.ON controlam cada uma  cerca de um quarto dos campos de gás de  Lujno-Rousskoie  que alimentarão em grande parte o circuitoNorthStream.  Não será coincidência se a equivalente alemã da Gazprom, chamado de "Gazprom a germânica" chegar a serproprietária de 40% da empresa austríaca AustrianCentrex Co, especializada em armazenamento de gás e se destina a ampliar-se até Chipre. 

Esta expansão não é certamente do agrado da Turquia, país ansioso por sua  participação no projeto Nabucco . Participação que consistiria em  armazenar, comercializar e transportar um volume de gás que chegaria a 31.000 milhões de metros cúbicos de gás por ano, cifra que poderia crescer para 40.000 milhões ao ano, um projeto que faz com que  Ancara seja cada vez mais dependente das decisões Washington e da OTAN , sobretudo tendo em conta as várias recusas aos seus pedidos de adesão à União Eu ropéia. 


Os vínculos estratégicos determinados pelo  gás são cada vez mais decisivos na arena política : o lobby de Moscou junto ao Partido Social Democrata alemão, na  Renânia do Norte-Westfália, onde há uma  importante base industrial , centro do conglomerado alemão RWE,  fornecedor de eletricidade e onde se situa uma subsidiária da E.ON 

Hans-Joseph Fell, responsável pela política de energia dos Verdes, reconheceu a existência dessa influência. Segundo ele, as 4 empresas alemãs vinculadas à Rússia têm um papel importante na definição da política energética alemã. Estas empresas contam com a Comissão de Relações Econômicas da Europa Oriental, - isto é, com  empresas que mantêm contatos econômicos muito próximo com a Rússia e com os países do antigo bloco soviético -  Comisão que dispõe , por sua vez, de uma rede muito complexa  de influências sobre os ministros e a opinião pública. Na Alemanha,  a discrição é a regra no que diz respeito à crescente influência da Rússia, com base no princípio de que é altamente necessário melhorar a "segurança energética" na Europ a.

É interessante notar que a Alemanha considera que a política da União Européia destinada a resolver a crise do euro pode prejudicar os investimentos Germano-Russos . Esta razão, entre outras, explica a relutância da Alemanha para o resgate do euro, moeda  muito sobrecarregada pelas dívidas da Europa, apesar do bloco germânico poder suportar essas dívidas. Além disso, sempre que os demais países  europeus se opõem à sua política com a Rússia, a Alemanha declara que os planos utópicos da Europa não são viáveis ​​e que , inclusive,  poderiam  levar a Rússia a ven der  seu gás na Ásia, o que colocaria em risco a segurança energética da Europa. 


Este casamento por interesses entre os Germânicos e os russos  está enraizado no legado da Guerra Fria:  3 milhões de russos vivem atualmente na Alemanha, representando a maior comunidade estrangeira desse país,  depois da comunidade turca. Putin também era favorável  a utilização da rede de  responsáveis da RDA,  que favoreceu os interesses das empresas russas na Alemanha, sem mencionar o recrutamento de ex-agentes da Stassi, como diretores de pessoal e finanças  da Gazprom Germania, assim como o diretor financeiro do Consórcio North Stream, Warnig Matthias , quem, segundo o Wall Street Journal , ajudou  Putin recrutar espiões em Dresde, na época em que o próprio Putin e ra agente da KGB. É certo, no entanto, que o uso que a Rússia tem dado as suas  antigas relações não tem sido prejudicial para a Alemanha, uma vez que os interesses de ambas as partes têm sido beneficiados sem favoritismo para qualquer lado.


O projeto North Stream , a principal ligação entre a Rússia e a Alemanha, foi inaugurado recentemente com um condutor que custou 4,700 milhões de euros. Apesar deste condutor ligar a Rússia com a Alemanha, dado o reconhecimento dos europeus  do fato de este projeto garantir a segurança energética da Europa, França e Holanda foram forçados a declarar que era de fato um "projeto europeu" . É importante mencionar, nesse sentido que o Sr.. Lindner, diretor-executivo do Comitê Alemão das Relações Econômicas com os Países da Europa Oriental declarou, com toda a seriedade do mundo que se tratava  realmente  de "um projeto europeu e não de um projeto alemão e que [o projeto] não encerraria  a Alemanha em maior dependência da Rússia”. Esta declaração ressalta a inquietação provocada  pelo aumento da influência russa na Alemanha. A verdade é que o projeto North Stream é, pela sua estrutura, moscovita e não europeu. 
Os russos podem paralisar a sua vontade a distribuição de energia na Polônia e em vários países , isso sem falar que terão todas as condições  de vender o gás para a melhor oferta. No entanto, a Alemanha é de muita importância para a  estratégia da Rússia, como plataforma que necessita para  desenvolver sua estratégia continental, especialmente considerando que a Gazprom Germania participa de 25 projetos cruzados, em países como a Grã-Bretanha, Itália , Turquia, Hungria, entre outros. I sto nos leva a crer que a Gazprom está prestes a se tornar, em pouco tempo,  uma das maiores empresas do mundo, se não se tornar a mais importante.

 

 

Um novo mapa da Europa e, em seguida, um novo mapa do mundo

 

 

Os gasodutos North Stream, South Stream y Nabucco

 

 

Os dirigentes da Gazprom  não só desenvolveram seu projeto, como  também conseguiram conter o projeto Nabucco. Gazprom detém 30% do projeto envolvendo a construção de uma segunda linha condutora de gás para o leste, seguindo aproximadamente a mesma rota prevista do projeto Nabucco. Os próprios partidários dessa  segunda condutora confessam que se trata de  um projeto "político" destinado a proporcionar uma demonstração de força ao travar e até mesmo bloquear o projecto Nabucco. Moscou se esforçou , também, por comprar gás da Ásia central e no mar Cáspio para enterrar este projeto e ridicularizar Washington politicamente, economicamente e estrategicamente.

Gazprom está explorando instalações vinculadas ao gás na Áustria, ou seja, no entorno estratégico da Alemanha, além de alugar instalações na Grã-Bretanha e na França. São, no entanto, as importantes estruturas de armazenamento na Áustria, que serão usadas para redesenhar o mapa  energético de Europa, já que irão prover a Eslovênia, a Eslováquia, a Croácia, a Hungria, a Itália e a Alemanha. A essas instalações deve ser adicionado o centro de armazenamento que Gazprom está construindo em Katrina, com a cooperação da Alemanha,  capacitando desta forma a exportação de gás para os principais centros de consumo na Europa Ocidental.


Gazprom criou  uma instalação comum de armazenamento com Sérvia para fornecer gás à Bósnia-Herzegovina e a própria Sérvia. Também em curso, a realização de estudos de viabilidade sobre métodos de armazenamento semelhantes na República Checa, Roménia, Bélgica, Grã-Bretanha, Eslováquia, Turquia, Grécia e, inclusive, na  França. 
A Gazprom refor� �a a posição de Moscou, provedor de 41% do gás consumido na Europa. Isto representa uma mudança substancial nas relações entre o Oriente e o Ocidente, a curto, médio e longo prazo. Também indica um declínio da influência estadunidense, representada pelos escudos antimísseis, e se verifica o  estabelecimento de uma nova organização internacional cujo pilar fundamental será a gás. Tudo isso explica a intensificação da luta pelo gás, desde a costa oriental d o Mediterrâneo até o Oriente Médio.

 

Nabucco y Turquia em  dificuldades 

 

 

 

Carente de fontes de abastecimento e sem clientes identificados, Nabuccos segue em atraso

Era de supor que Nabucco transportaria gás até a  Áustria  através de 3 900 km do território turco e que estava projetado para fornecer anualmente, para os mercados europeus, 31 000 milhões de m3 de gás natural provenientes do Oriente Médio e da bacia do mar Cáspio. A difícil  situação da coalizão OTAN/EUA/França para eliminar os obstáculos aos seus interesses em matéria de abastecimento de gás no Oriente Médio, principalmente na Síria e no Líbano, reside na nece ssidade de assegurar a estabilidade e o consentimento do entorno quando se fala de infra-estruturas e investimentos que requerem a indústria do gás. A resposta Síria foi firmar contrato que autoriza a passagem do gás iraniano em seu território, passando através do Iraque. A batalha é, portanto, centrada em torno do gás sírio e libanês. Ele irá ali mentar aNabucco ou South Stream ??

O consórcio Nabucco é composto por várias empresas: a alemã REW, a austríaca OML, a turca  Botas, a búlgara Energy Holding Company e a romena Transgaz. Há 5 Anos,  os custos iniciais foram estimados em 11.200 milhões de dólares, mas até o ano 2017 poderia chegar a 21.400 milhões. Isso levanta inúmeras questões à sua viabilidade econômica já que Gazprom tem contratos com vários países que deveriam alimentar a Nabucco, que já não pode contar com os excedentes do Turcomenistão, sobretudo após as tentativas sem sucesso para capturar o gás iraniano. Esse último fator é um dos segredos que são desconhecidos sobre a batalha por Irã, país que ultrapassou  a linha vermelha em seu desafio aos Estados Unidos e Europa ao escolher o Iraque e a Síria como rotas para o trajeto de uma parte de seu gás.


Assim, a maior esperança de Nabucco é o abastecimento com o gás do Azerbaijão e o reserva de Shah Deniz, convertido em quase a única fonte de aprovisionamento de um projeto que parece ter fracassado sem ter começado. Isso é o que se segue, por um lado, da aceleração da assinatura de contratos que Moscou concluiu para a compra de fontes inicialmente dest inadas a Nabucco e das dificuldades surgidas, por outro lado, ao  tratar de impor mudanças geopolíticas no Irã, Síria e Líbano. E tudo isto ocorre num momento em que a Turquia reclama sua participação no projeto Nabucco, quer seja mediante um contrato com o Azerbaijão para a compra de 6.000 milhões de m ³ de gás em 2017 ou através da anexação da Síria e do Líbano, com a esperança de impedir o tr ânsi to do petróleo iraniano ou receber uma parte da riqueza gasífera do Líbano e da Síria. Parece que a possibilidade de  ter um lugar na nova ordem mundial exige prestar certa quantidade de serviços, que vão do apoio militar até servir de base ao dispositivo estratégico do escudo antimisseis.

Talvez a principal ameaça para o Nabucco seja a tentativa russa de faze-lo fracassar através da negociação de contratos mais vantajosos a favor da Gazprom para North Stream e South Stream, que invalidaria os esforços dos Estados Unidos e da Europa, diminuiria a influência de ambos e perturbaria a política energética dessas concorrentes no Irã e/ou no Mediterrâneo. Além disso, Gazprom poderia tornar-se um dos investidores ou operadores mais importantes das novas reservasde gás na Síria e no Líbano. Não por acaso, em 16 de agosto de 2011, o Ministro de Petróleo da Síria anunciou a descoberta de um poço de gás em Qara perto de Homs, cuja capacidade seria de 400 000 m ³ por dia (146 milhões de m ³ por ano), para não mencionar a importância do gás Mediterrâneo existente.

 

Os projetos North Stream e South Stream , por conseguinte, reduziu a influência política dos Estados Unidos, que agora parece ter ficado para trás. Os sintomas de hostilidade entre os Estados europeus e a Rússia foram atenuados, mas a Polônia e os Estados Unidos não parecem dispostos a renunciar. No final de outubro de 2011, estes dois países anunciaram a alteração de sua política de energia como conseqüência da descoberta de reservas européias de carvão que deveriam diminuir a dependência à Rússia e ao Médio Oriente. Parece  ser uma meta ambiciosa, mas só possível a longo prazo devido a inúmeras etapas previas  exigidas  para a comercializ ação já que se trata de um  tipo de carvão encontrados em rochas  sedimentares a milhares de metros abaixo da terra, que requer o uso de técnicas hidráulicas de fratura e alta pressão para liberar o gás e sem falar ou  considerar os riscos para o ambiente.

 

A participação da China

 

A  Organização de Cooperação de Shangai, conformada por Russia, China, Kazajstán, Kirguistán, Tayikistán y Uzbekistán

 

A cooperação sino-russo no campo energético  é o motor da parceria estratégica entre os dois gigantes. De acordo com especialistas, constitue, inclusive,  "base" do duplo veto em defesa da  Síria no Conselho de Segurança.

 

Esta operação não  tem que ver unicamente com o abastecimento da China em condições preferenciais. China participa  diretamente com a distribuição de gás, através da aquisição de ativos  e de instalações, bem como em um projeto de controle conjunto das redes de distribuição. Paralelamente, Moscou mostra sua flexibilidade nos preços do gás, desde que tenha acesso ao ambicionado mercado interno chinês.Se tem garantido, portanto, que os peritos russos e chineses trabalhem juntos nos seguintes  campos: « Coordenação de estratégias energéticas, Previsão e prospecção, Desenvolvimento dos  mercados, Eficiência energética e Fontes alternativas de energia».

 

Outros interesses estratégicos comuns estão relacionados com os riscos que representa o projeto americano de 'escudo antimísseis'. Washington tem envolvido não apenas o Japão e Coréia do Sul, mas no início de setembro de 2011, convidou, também,  a Índia a aderir ao projeto. Isto traz como conseqüência que as preocupações de ambos os países se cruzam no momento que Washington trata de reativar sua estratégia na Ásia central ou em seja na Rota da Seda

 

 

Essa estratégia é a mesma que George Bush havia empreendido (o projeto da Grande Ásia Central) com vistas a contrariar, com a colaboração da Turquia,  a influência da Rússia e da China, resolver a situação no Afeganistão até 2014 e impor  a força militar da OTAN em toda região. O Uzbequistão já sinalizou que  poderia acomodar a OTAN, e Vladimir Putin tem avaliado  que o que poderia fazer fracassar as investidas do ocidente e impedir que os Estados Unidos prejudique a Rússia seria a expansão do espaço Russia-Kazajstán - Biel orrússia, em cooperação com Pequim.

 

O panorama dos mecanismos da atual luta internacional  dá  idéia do processo existente de formação de uma nova ordem internacional, com base na luta pela supremacia militar e cujo elemento central é a energia,  com o gás em primeiro lugar.

 

 

O gás de Síria

 

 

A «revolução siria» é uma encenação midiática que esconde a intervenção  militar ocidental para a conquista do gás.

Quando Israel empreendeu  a extração de petróleo e gás, a partir de 2009, ficou claro que a bacia do Mediterrânea  se havia somado ao jogo e que haveria duas possibilidades: Síria seria  alvo de um ataque ou toda a região viveria em paz, pois se supõe que o século XXI seja o século da energia limpa.

 

De acordo com o Washington Institute for Near East Policy (WINEP, Think-Tank do AIPAC), a bacia do Mediterrânea contém as maiores reservas de gás e é, precisamente,  na Síria onde se localizam as mais importantes. Este mesmo Instituto também emitiu a hipótese d e que a batalha entre a Turquia e Chipre se  intensificará porque a Turquia não pode aceitar a perda do projecto Nabucco (apesar do contrato assinado com Moscou em Dezembro de 2011 para o transporte de grande parte do gás  de South Stream através da Turquia).

 

 

A revelação do segredo do gás sírio dá uma idéia da importância do que está realmente em jogo. Quem tenha o controle da Síria poderá controlar o Médio Oriente. E a partir da Síria, portão da Ásia, terá  em suas mãos a chave da Rússia e, também, da China, através da “Rota da Seda”, assim você poderá dominar o mundo neste século, já que é o século do gás.

 

É esta  a razão pela qual os signatários do acordo de Damasco, que permite que o gás iraniano passe pelo Iraque e chegue ao Mediterrâneo, criando um novo espaço geopolítico e cortando a linha vital do Projeto Nabucco, declararam na época que "A Síria é a chave da nova era".

 

 

 Postado do sítio:https://ciaramc.org/ciar/boletines/cr_bol433.htm