Assuntos: Cotas, Diversos e Nova revolução?

12-11-2013 09:12

COMENTÁRIO ESTRATÉGICO 184

 

15 outubro de 2013

 

 

Por. Cel. Gelio Fregapani 

Articulista e Colunista do site. 

 

As Cotas Raciais e a divisão do País

Não se justifica o projeto da Presidente Dilma para colocar mais afrodescendentes no Serviço Público. O pretexto de que a representatividade negra na administração pública é baixa não é confirmado pelo IBGE. Segundo o Censo do instituto, 45% dos funcionários do País pertencem a essa etnia. Nos governos das cidades chegam a ser 81%.  Não há discriminação ou privilégio no concurso público.

Cotas no nosso País é um subproduto mal acabado importado dos EUA. O acento americano é tão óbvio quanto é óbvio que não funcionará aqui. Nos EUA, o projeto de uma identidade negra separada tem alicerces nas leis de segregação que durante muito tempo traçaram uma linha oficial entre "brancos" e "negros" suprimindo a possibilidade de construção de identidades intermediárias. No Brasil esse projeto choca-se com a mestiçagem, que  obstaculiza a divisão em raças. A solução dos antibrasileiros é impor, de cima para baixo, a nossa divisão em "brancos" e "negros", incluindo nestes os mestiços. As leis de cotas raciais servem para isso, exclusivamente.

Sabemos que, em alguns casos, caucasianos e orientais poderiam retornar à pária de seus ancestrais, (duvidamos que se sentissem bem lá). Podemos acreditar que negros puros possam ser aceitos em suas tribos de origem, (nenhum iria querer mesmo), mas os mulatos só podem ser brasileiros e aliás é o que todos querem.

Emblemático foi a expressão de Carlinhos Brown quando chamado de afro-brasileiro teria respondido: “Afro brasileiro coisa nenhuma, sou é brasileiro mesmo” E em outra ocasião complementou: “Não abro mão do meu País”.

Poucos de nós deixam de ter algum sangue negro ou índio. Menos ainda são os que não tenham algum sangue europeu. Essa divisão artificial, provocada do estrangeiro, não vai colar.

 

A seus patrões?

Em palestra à empresários em Londres Eduardo Campos cita Marina e defende seu “modelo de gestão”.  Além de empresários britânicos e do embaixador do Brasil,  membros do governo britânico também estavam presentes. Eduardo Campos afirmou que "  o nosso modelo de gestão foi premiado pela ONU por sua excelência".

De nosso conhecimento a ONU só premia as desnacionalizações

Se tratando de um aliado da Marina, a ligação com Londres parece coerente.

 

Parece impossível, mas tem lógica

 

Linro Project - Dois suíços, radicados no Brasil, mostram como revolucionar a Física e obter Energia a partir da Energia da Gravidade - Dupla Rotação simultânea

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Nova revolução?

Lamentavelmente estamos nos encaminhando nessa direção. Os componentes que a propiciam estão presentes e aumentando.

As revoluções da classe “A” costumam ser palacianas, como o impeachment do Collor. São realizadas no âmbito das elites, mas necessitam contar com pelo menos o concordo das Forças Armadas e com expressiva insatisfação popular,..

 Para haver uma revolução de classe média, como a de 64, é indispensável também alguma  insatisfação popular e é por demais evidente a insatisfação com a corrupção dos congressistas, com a inércia do Judiciário e com a seqüência das greves e das depredações. Mais do que a insatisfação é necessário uma irredutível divergência dessa classe com o Governo e, mais ainda, o envolvimento das Forças Armadas, pois a classe “B” tem pouca disposição para lutar e sempre desejará que alguém lute por ela e somente se levantará sentindo-se ameaçada, inclusive de invasão de suas casas. Isto está iniciando, menos por motivos políticos, mais por conta da (in)Segurança Pública. Não nos estenderemos sobre as classes baixas (C e D) por essas, no momento, não terem motivações para uma revolução. Talvez encontrem algum motivo para se opor a mesma. Contudo, em grande parte, considerariam desejáveis um pouco mais de ordem e a punição severa da corrupção.

Qualquer analista concordará que está em formação uma massa crítica de insatisfações e que o caminho é perigoso. Que, embora a insatisfação tenha motivos reais, é insuflada também pelo estrangeiro, ou melhor, pela oligarquia financeira internacional. Como a insatisfação tende a crescer, pode chegar a uma massa explosiva e se conseguir o envolvimento ou ao menos a neutralidade  das Forças Armadas o caminho da revolução estará aberto.

Mesmo havendo uma massa crítica, ela só explode com um evento acionador. A “espoleta” de nova revolução será a reação dos produtores rurais ao absurdo das invasões dos movimentos indigenistas, aos desmandos ambientalistas e aos esbulhos dos truculentos movimentos dos sem terra. Privados de apoio no Judiciário os fazendeiros já criam as suas milícia. Aí temos divergências irredutíveis e forças reativas, prontas para iniciarem o conflito. Em 64 a espoleta foi o governo da Minas. As Forças Armadas, descontentes,  simplesmente aderiram.

E agora, as Forças Armadas, como se portarão? – Ainda é uma incógnita. Excepcionalmente espezinhadas no governo FHC e menosprezadas no governo Lula, foram aos poucos levantando as restrições no atual governo, quando começaram a ser ligeiramente mais bem tratadas. Entretanto, as imbecilidades da Comissão da Verdade e da Ministra dos Direitos Humanos impedem a adesão emocional à comandante suprema.

A tradição das Forças Armadas é de legalidade, tradição herdada de Caxias. O rompimento da legalidade em 64 foi algo excepcional, algo pedido por toda a população. Já a Proclamação da República foi o resultado de uma conspiração espúria quase restrita a  insatisfação militar, naturalmente insuflada pela insatisfação da elite de então – os fazendeiros que perderam seus escravos.O povo da Capital manteve-se neutro, ou bestificado, como se falou então. No interior a República foi imposta a manu militari.

Haverá uma nova revolução? Que característica terá? A quem servirá? Será insuflada do exterior? O que Caxias diria?

Certamente o mesmo que disse aos farroupilhas: Unamo-nos e marchemos ombro a ombro e não peito a peito, em defesa da Pátria que é a nossa mãe comum.

 

Que Deus abençoe o nosso País

Gelio Fregapani

ADENDO

 

Obs: Se já houvesse o maldito IBAMA, esta epopéia seria impossível. GF

 

PALESTRA ALUSIVA AO 48º ANIVERSÁRIO DO 5º BEC

Proferida pelo pioneiro Ten R1Carlos Alberto Camargo Lima

       Sr. Cmt, Cel Lampert, Oficiais, Sub Ten, Sgt, civis, distintas Sras., Srs., jovens, crianças, companheiros e amigos pioneiros.

      Sinto-me honrado com a distinção para proferir palestra aos Srs.

      O 5º Batalhão de Engenharia de Construção comemora 48 anos de criação como Unidade Pioneira da Engenharia Militar na Amazônia.

       Veremos algumas fotos, um relato e após será aberto espaço para considerações e perguntas. Se alguém quiser ver a história do 5º BEC, em imagens, basta olhar a parede do cassino de Oficiais.

       O que me levou as conclusões que cheguei a respeito deste batalhão pioneiro, ao qual tive a honra de servir: Os cursos que fiz,  a vivência que tive, as pessoas com as quais convivi, os livros que li. Nos trabalhos que tive que desenvolver, na caserna e no mundo civil, sempre obedeci os ditames da razão, a legislação pertinente, o bom senso, a disciplina, a hierarquia e a minha consciência. Antes de vir para a Amazônia, já tinha lido os livros: “As Forças Morais”, “O homem medíocre”, “A ferrovia do Diabo”, “O Diário ou a clareira da morte” e boletins do IBGE sobre a região. Sobre Rondônia, praticamente não havia nada. Só na “Ferrovia do Diabo” e sobre fatos do início do século passado. Portanto, sabíamos muito pouco sobre a região. Nós sabemos que quando o espírito predomina sobre a matéria, o homem, normalmente, vence. O Cel Weber chamava a isto de “mística”.

      Quando servia no 2º GEC, em Manaus-AM, fui indicado e participei da  inauguração da BR 163 Cuiabá-MT – Santarém - PA, em 20 Out 1976, no local denominado Cachoeira do Curuá, próximo a Cachimbo – PA. Descerrou a fita o Presidente Geisel e o Ministro dos Transportes Gen Dirceu de Araújo Nogueira. Fui num C-115 da FAB e retornei no avião da Presidência da República. De Cachimbo a Curuá, fomos de ônibus. De praças éramos poucos. Eu representava o 2º GEC. Entramos no ônibus. Este se deslocou até o avião presidencial. A seguir entraram vários oficiais generais, em sua maioria de exército, o posto mais alto da hierarquia. Sentado, levantei-me e fiz continência, ao que julguei ser o mais antigo. Fiz menção de deixar o lugar. O Gen disse: “Não meu filho. Fique sentado.” Insis ti e ele gentilmente reafirmou para que eu permanecesse sentado na poltrona em que estava. Aquilo me encheu de orgulho pela instituição a que pertencia. O significado de um gesto tem um valor indescritível. 

       O primeiro comboio, do 5º Batalhão de Engenharia de Construção, chegou em Porto Velho, no dia 20 de fevereiro de 1966, após uma epopeia que iniciou em 16 de janeiro do mesmo ano, portanto, após 35 dias de viajem por atoleiros, charcos, árvores caídas, bueiros e balsas quebradas, subidas e descidas íngremes, caminhos de serviço estreitos, praticamente intransponíveis e que na maioria não permitiam a transposição de um  veículo por outro, densidade pluviométrica elevada, isolamento quase absoluto, sem prospectiva de retorno ou ter como repor suprimentos, mantimentos, combustíveis ou manter qualquer tipo de comunicação com o destino ou a origem, dormindo ao relento, sujeitos as intempéries, muitas vezes sem ter o que comer, com escassez de água potável, em região endêmica, assolada pel a malária, além de uma infinidade de obstáculos.

        Todos nós, pioneiros ou não, temos uma rica história de vida. Mas, a história que vivemos no batalhão pioneiro é uma das mais ricas e patrióticas, que nós vivemos. O tempo e as condições em que isto se deu. Região inóspita, endêmica, sem meios de comunicações com os familiares distantes, com escassos recursos: de alimentação local, assistência médica e social precária. Região quase que absolutamente isolada e onde praticamente quase tudo estava por fazer.

        O Período em que permaneci, no BEC, foi dos 25 aos 32 anos de idade, mais de sete anos. Tinha, portanto, plena consciência do que fazia e do que via. Como estava acostumado a responder pela chefia de Residências destacadas e por Residência Especial de Construção, no glorioso Batalhão Mauá, com suas tradições de empreendimento e realizações, entendia muito bem o que significava ser um livre pensador, exercer a iniciativa, tomar decisões e resolver problemas. Tinha lapidado, lá, o caráter: nos confins gelados, isolados de Santa Catarina e Paraná; nos serrados goianos; por vezes extremamente quente, em cortes e aterros, chefiando turmas de construção de ferrovia, de furação de dormentes, do avançamento, em drenagens, de distribuição de material para a superestrutura ferroviária, de la nçamento de bueiros, em contenção de aterros e encostas, na chefia da construção da 1ª Estação Ferroviária de Brasília. Estação de 2ª classe, no Núcleo Bandeirante, respondendo pela Chefia da Residência Especial de Construção de Brasília, atento com o suprimento de materiais para não comprometer o desencadeamento dos trabalhos e aos aspectos comportamentais de quantos, trabalhavam comigo. Trazia ensinamentos adquiridos na espartana e dura luta da Engenharia de Construção, desencadeada por Batalhão de Engenharia do Exército. Trazia, também, ensinamentos adquiridos no adestramento da Engenharia de Combate e na Escola Profissional Ferroviária. Nesta, foram três anos de dura luta, entre conhecimentos teóricos, estágios, viagens e aplicação prática dos conhecimentos adquiridos. Escola de tempo integral.

        Por aqui, antes, passaram homens brilhantes e determinados, como os bandeirantes portugueses, os construtores do Real Forte Príncipe da Beira, da EFMM,  Rondon, Aluízio Pinheiro, Enio dos Santos Pinheiro e tantos outros desbravadores. Sem jamais esquecer e deslustrar a fibra e a epopeia vivida por Pedro Teixeira, que demarcou solenemente a fronteira oeste das terras de domínio de Portugal, em local próximo a Tabatinga. No passado, os bravos navegadores portugueses singrando mares desconhecidos, nunca antes navegados. Verdadeiros heróis. Herói não é aquele que se esconde em um Bunker ou numa fortaleza. É o que vai a luta e enfrenta os fatos, por mais adversos que sejam.

       Faltava, no entanto, a posse definitiva e a integração do território nacional. Rondônia e o restante da Amazônia continuavam isolados. Os rios, sinuosos e morosos eram as estradas naturais. Os aviões caros e escassos, praticamente, só os da FAB eram as ligações aéreas existentes.

       Era visível nos olhos e no semblante das pessoas que aqui viviam, o patriotismo, o orgulho cívico, a confiança, a fé inabalável em nós, na Engenharia do Exército, na missão que cabia ao 5º BEC – integrar para não entregar. Cabia a nós, talvez, a última esperança de um futuro melhor, feito por brasileiros, para os brasileiros. O BEC, consciente disto, não quebrou o encanto.O primeiro Comando do Batalhão era exercido pelo Ten. Cel. Carlos Aloísio Weber, cuja Unidade leva seu nome por justo reconhecimento. Ele chamou a si a responsabilidade de não decepcioná-los, transformando o que a princípio, mais parecia um bando de quase maltrapilhos, com uniformes rotos, desbotados, originários dos mais diversos rincões de nosso país, com sua s diversidades regionais, todos voluntários, em uma UNIDADE, na exata acepção da palavra. Todos ou quase todos passaram a pensar igual ao comandante. A palavra “impossível” ou “desistir” não cabia no espírito laborioso dos “quimbequianos”. Logo o 5º BEC passaria a ser conhecido, reconhecido, respeitado e admirado, não só no Brasil, mas além fronteira, pelos seus trabalhos pioneiros de engenharia na Amazônia e inclusive pela apresentação pessoal, notável, marcial e com uniforme impecável em formaturas, ensejando emoções, orgulho e até lágrimas de quem as presenciasse. O Mal. Juarez Távora, emocionado e com lágrimas incontidas, disse que: “Via aqui realizados os sonhos que teve em sua juventude.” A mesma emoção que tenho ao ver os desfiles do BEC de hoje. O Batalhão fez e faz.

       Em formatura geral, entre civis e militares era dado a público, correspondências que o Batalhão recebia, de ministros, chefes de Estado, de outros países, da imprensa, da sociedade civil e das mais variadas origens, enaltecendo e elogiando o trabalho que no Batalhão se realizava.

        O Cel., a alma, o espírito, a palavra sábia, a atitude, o símbolo, a vela, a bússola, o rumo, a fluência dinâmica em que todos se inspiravam. A nós, civis e soldados, cabia a consciência e o silêncio do trabalho profícuo e dedicado. O Batalhão a epopeia, o poema a escrever numa página da história, que no início estava em branco, de realizar o impensável, o impossível.

        O Cel. Weber, oficial diferenciado, harmoniosamente conduzia com maestria sua Brilhante Unidade. Humano, franco, direto, firme, determinado. Jamais a presunção ou a vaidade subiu-lhe a cabeça. Distribuía fartamente seu entusiasmo. Era mestre em perdoar pequenas falhas humanas. Sabia muito bem se valer da palavra fácil para demonstrar reconhecimento. Não fazia segredo disto. Sem dúvida nenhuma esbanjava méritos. Primeiro aluno de sua turma.

        Só vendo para crer. Como pode um Comandante de Unidade, exigindo tanto de seus comandados, naquelas circunstâncias, tendo tão pouco a oferecer, quase somente sacrifícios, ser tão admirado e respeitado, inclusive, pelos próprios subordinados? Tinha uma visão completa do que estava fazendo, do que representava e se propunha fazer, do que se esperava dele, da Unidade que comandava, do momento que vivia, do teatro onde as ações eram desencadeadas, dos meios que dispunha, dos óbices e desafios que tinha que enfrentar. Tinha uma prospectiva quase profética dos passos que dava e aonde isto conduziria. Raras pessoas tinham aquela determinação, aquele entusiasmo e aquele tirocínio. Olha que conheci muita gente pelas minhas andanças. Vi um, que seguiu seus passos, pois veio depois: O Cel. Jorge Teixe ira de Oliveira. Deixou sua marca em Manaus, em Rondônia e por onde passou. Mas ambos tinham em quem se inspirar. Um modelo vivo, irretocável, com visão de estadista: Gen. Ex. Rodrigo Octávio Jordão Ramos. Primeiro lugar em todos os cursos que fez no Brasil e no exterior. Talvez o único detentor dos títulos de cidadão Honorário de todos os Estados da Amazônia. Todos foram meninos pobres que estudaram pelas madrugadas, a luz de velas. Eram tempos difíceis: não havia fogão a gás, televisão, internet, telefone fixo ou celular, poucos tinham automóveis etc.

       Praticamente quase todas as rodovias e ferrovias, no Brasil, com raras exceções, foram encargos atribuídos a Engenharia Militar do Exército brasileiro. Desde o planejamento, os serviços de topografia, a poligonal de exploração, o levantamento das seções transversais, a medição de ângulos, distâncias, diferenças de nível, os conhecimentos práticos dos instrumentos, com balizas, trenas, trânsito, teodolito, nível, miras, pranchetas, bússolas, roçadas, registros nas cadernetas, os trabalhos de escritório e a execução.

        Durante o dia, com chuva, a lama pelo corpo todo. Sem chuva, com o Sol inclemente, a poeira mesclava-se e impregnava as roupas molhadas pela transpiração excessiva. O suor a penetrar nos olhos irritando-os e provocando desgaste físico e emocional. Durante o dia o pium, pequeno mosquito hematófago, em grande quantidade fartava-se com o sangue a escorrer pela pele daqueles que ousavam invadir seus domínios, a selva. Marimbondos, abelhas e assemelhados atacavam impiedosamente. À noite era a vez dos “carapanãs”, mosquito anófele, hematófago, transmissor dos plasmódium vivax e falcíparum, causadores da temível malária. Leishmaniose, a lepra branca, a febre negra. Doenças que enchiam hospitais e cemitérios. Cobras, aranhas, escorpiões, lacraias, formigas terríveis e desconhecidas, algumas q uase invisíveis, com toxinas que levam ao desespero. Ácaros, percevejos, carrapatos. Onças, selvagens e suas emboscadas. Nos rios e igarapés, a arraia, a piranha, o poraquê e o temível candiru. A imensa sucuri, o Jaú e a piraíba, que engolem um homem inteiro. As terríveis cachoeiras do Rio Madeira, que tragaram tantos insensatos. A selva sedutora onde tantos desapareceram. O mistério do desconhecido. Além disso, vencer, também, a indolência e a apatia secular. O clima tropical, quente, favorece o desânimo.

       Situe-se no tempo. Quase 50 anos atrás. A carência da mão de obra especializada. A necessidade de improvisação. O exercício da criatividade. Imagine um doente ou acidentado á mais de 3.000 km do grande centro mais próximo, sem avião apropriado e disponível. Pense no cenário: delegar atribuições por obras simultâneas, num teatro de operações, que envolvia três Estados e um Território Federal, cada um deles em tamanho equivalente a países inteiros do oeste Europeu; deslocar-se para supervisioná-las; habilitar os meios para supri-las; cumprir a lei, os regulamentos, a técnica esmerada; e uma infinidade de problemas a serem resolvidos. O Ten. Cel. Weber, quando assumiu um comando, que ninguém queria, foi tido por muitos, como um “louco”. Evidentemente que, para os acomodados, da época, esta era a designação apropriada. Todos nós éramos tidos como “loucos” e tínhamos o mesmo espírito pioneiro e voluntário. Éramos jovens e entusiastas. Queríamos ser úteis á nossa pátria. Deixamos para trás a família que amávamos: pais, irmãos, parentes, muitos deixaram namoradas e estes normalmente, não nos perdoaram por isto. O desprendimento fazia com que olhássemos para á frente, que caminhássemos em direção a conquista do futuro. É de povos exaustos satisfazer-se em contemplar o passado, ao invés de preparar o amanhã.

       Éramos como se fôssemos uma confraria. Como se fôssemos irmãos, independente de posto ou graduação, civis e soldados. O respeito era recíproco. O objetivo comum une e aproxima as pessoas. O Cel Weber chamava o Btl. de “minha legião estrangeira”. Para cá vinham voluntários dos mais diversos rincões, costumes, origens, com seus regionalismos típicos. Havia poucos oficiais e sargentos da arma de engenharia. Na sede, normalmente, em formaturas, quem comandava o pelotão era um 3º Sargento e todos se davam bem, com raríssimas exceções. É claro, sempre tem as exceções. Nós entendíamos isto muito bem.

       Era o tempo em que se promovia o pleno emprego, eram construídas grandes hidrelétricas, a ponte Rio - Niterói, rodovias, ferrovias, iniciaram-se as comunicações, a indústria nacional deu um salto, havia segurança nas cidades, no campo e respeito pelo cidadão honrado. Era o tempo em que se construía um país digno de orgulho nacional. Já não era mais só o país do samba e do futebol.

       Só quem participou da gigantesca obra e missões que o Batalhão realizou, têm ideia do quanto era difícil e árdua, á missão. Milhares de km de rodovias, na sua grande maioria, federais, com suas características próprias, de cortes, aterros, o mínimo de curvas acentuadas, de descidas e subidas, com obras complementares de proteção de encostas, bueiros, pontes de concreto e outras, em plena selva, obras pioneiras, sem similar, naquele tempo.

       Este amigo que vos fala, à época, 3º sargento de engenharia, sem CAS, era a única praça que participava das reuniões do Comandante, no segundo comando, com os Comandantes de Companhia e Chefes de Residências. Após, era convidado a almoçar ao lado do Comandante. Os assuntos tratados em reunião, uma vez decididos, não eram mais comentados. Restava pô-los em prática. Iniciou, no 5º BEC fazendo apropriação de custos das obras da Sede, na Seção Técnica e a maior parte do tempo respondendo pela chefia da REO – Residência Especial de Obras. Depois, em momento crítico, foi convocado pelo Comando para responder pela Chefia da Granja do Batalhão, que apresentava déficit crescente, passou a exercer controles e rapidamente reverteu a situação, tornando-a superavitária, deixando a comercializ ação por conta do SAS.

      Tributo o que hoje sou, ao estoicismo do Exército brasileiro, sobretudo a Engenharia Militar de Construção, onde servi durante 24 anos, 6 meses e 27 dias, muitas vezes, isolado, em frentes de trabalho, em lugares inóspitos, desprovidos de recursos. Instituição que influenciou minha formação e fizeram de mim um Cidadão, pelo exemplo, o exercício da cidadania, o compromisso institucional e afetivo com a liberdade, a democracia, a sociedade brasileira, a justiça social, respeitando a ordem e o progresso, lema sagrado de nossa bandeira. Que me ensinou o valor da honra, da dignidade, da palavra empenhada e o juramento que fiz perante o símbolo sagrado da nacionalidade. Dos muitos elogios que constam em meus assentamentos militares, de reais e alevantadas expressões, do pensamento e da ação de nosso país, cito, parte do reconhecimento contido na penúltima frase, do último, um resumo  dos registros da vida militar: “O Exército Brasileiro vê com pesar o afastamento de tão brilhante profissional e agradece-lhe a dedicação integral ao serviço da Pátria.”

      Os pioneiros e os que passaram por esta escola de civismo, assimilaram e praticaram seus ensinamentos, na reserva ou no meio civil, continuaram trabalhando, já com outra visão, mantiveram suas famílias com dignidade, venceram na vida e seus filhos, por vezes, alçaram voos mais altos.

      Nós NÃO VIVEMOS EM VÃO

      Se os Srs. desejarem fazer perguntas ou acrescentar algo, sintam-se a vontade. Muito obrigado.

 

*Pioneiro do 5º BECnst, Ten R1 do Exército brasileiro, Administrador, Pós graduado  em Estudos de Política e Estratégia, Pós graduando em Administração Rural, Consultor do SEBRAE, Diplomado pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, escritor, historiador, com experiência em gestão nas áreas Federal, Estadual, Municipal e na iniciativa privada. Criador de gado bovino, de alto padrão genético, nas aptidões de corte e leite, e de cavalos árabes puros e cruzados.

 

Tem. R1Carlos Alberto Lima