Assuntos: Juros, Hidrelétricas. Petróleo e Contra-espionagem

12-11-2013 00:31

COMENTÁRIO ESTRATÉGICO 183

de 31 de outubro de 2013

 

Por. Cel. Gelio Fregapani 

Articulista e Colunista do site. 

 

Juros, por que?

A nossa taxa de juros já era a mais alta do mundo e ainda aumentou. As indústrias tiveram que demitir empregados, a agricultura que vinha fechando as contas "no azul", também foi prejudicada. O custo de vida, os impostos, as tarifas públicas tiveram que aumentar, causando estagnação e desemprego em consequencia mais marginalidade. Certamente o governo poderia abaixar os juros drasticamente e diminuir o dinheiro reservado para pagá-los, mas preferiu aumentá-los, mesmo estrangulando a economia, impedida por isso de crescer significativamente.

 Afinal, então por que não se baixa os juros? Para evitar talvez a inflação por excesso de demanda? Mas controla-se melhor aumentando a produção e melhorando a infraestrutura assim os juros provocam o encarecimento dos produtos e impedem a alocação de recursos para a infraestrutura. Então por que?

Poucas explicações nos restam entre elas a má fé, o roubo, as propinas, a traição à Pátria e para suavizar, a ignorância.

 

A Hidrelétrica de Belo Monte e a do Jirau, no rio Madeira

No momento em que recrudescem as pressões contra a construção da UHE de Belo Monte, vale lembrar as paralisações e as depredações durante a construção da UHE do Jirau, a maior obra antes de Belo Monte. As depredações e incêndios foram atribuídas à disputas trabalhistas mas isto não é verdadeiro pois os operários não queimam seus aparelhos de TV nem seus documentos. Temos motivos para vislumbrar o dedo do Consórcio nesses tristes eventos.

A Camargo Correa é a construtora da obra, mas não a dona. A proprietária real é uma firma estrangeira, a Suez, que lidera o Consórcio, o qual tudo indica, de mãos dadas com o ex governador, incentivou as paralisações para impedir o nosso desenvolvimento ou até quem sabe, para arrancar mais dinheiro do Governo Federal.

Certamente as pressões contra Belo Monte tem as mesmas motivações.

 

Ainda o leilão de Libra

É falaciosa a afirmação que a Petrobrás não teria interesse ou tecnologia para tocar sozinha o empreendimento, mas só teria recursos para iniciá-lo em 2015. É possível que seja difícil discordar do “timming” e da necessidade do petróleo o quanto antes, mas certamente faltou ousadia para se consolidar o monopólio da Petrobrás para a região do pré-sal e se, por um lado, o modelo de partilha representou algum avanço em relação ao anterior modelo de concessão, permanece a sensação de uma oportunidade perdida de se ampliar o poder estratégico da Nação em relação a temas sensíveis dentro sistema internacional.

Mesmo antes do pré-sal, o crescimento da Petrobrás incomodava aos donos do petróleo e entre eles havia quem desejasse impedir o surgimento de um “Japão” no Hemisfério Sul.

Ainda que o campo de Libra esteja localizado na nossa Zona Econômica Exclusiva,  nem todos países são signatários de acordos sobre isto, dentre eles a China e Estados Unidos,  países com tradição de arbítrio e violência no sistema internacional. Para estes, o pré-sal brasileiro encontra-se em águas internacionais.

A Petrobrás havia se lançado com talento e determinação na pesquisa do pré-sal antes que o País estivesse preparado para defendê-lo e isto atrai e estimula a todas as ambições. A História tem demonstrado que riquezas trazem desenvolvimento desde que acompanhadas de força. Riqueza com debilidade militar só estimula ambições e quando se trata de recursos naturais indispensáveis e escassos como o petróleo, atrai imposições econômicas, diplomáticas e até militares. As concessões feitas pela presidente Dilma, ao realizar o leilão do Campo de Libra não conseguem neutralizar totalmente o lobby dos que desejam passar para mãos estrangeiras o controle sobre a indústria do petróleo no país.

 Ao trazer para sócios empresas de países com significativos arsenais militares  diminuímos a ambição de alguns e aliciamos alguns defensores, mas isto não anula a vulnerabilidade, que consiste basicamente na fraqueza própria. É preciso que exploremos o quanto antes o petróleo do pré-sal, mas é preciso que nos armemos para defendê-lo e em ambos os casos não podemos esperar para fazê-lo nas condições ideais, pois seria inconsequente ignorar as potenciais situações de litígios, decorrentes de crises e tensões internacionais que podem gerar interesses estratégicos distintos em termos das políticas internacionais.

Supomos que a China entrou no negócio para garantir mais um pouco de seu suprimento e para aprender a operar  no pré-sal da África, onde tem concessões e a Shell e a Total entraram por ser um bom negócio.    Chama a atenção que as empresas dos EUA não concorreram. Pode ser que não confiem ou que estejam voltadas para o gás do xisto ou quem sabe, para que seu país não reconheça que o pré-sal é brasileiro.

Os lobistas têm ainda em vista revogar o sistema de partilha, retornando ao de concessão – pelo qual as empresas estrangeiras são dona do petróleo- e retirar da Petrobras como operadora das operações acabando com a exigência de nacionalização de máquinas e equipamentos usados para explorar o pré-sal.

O lobby internacional do petróleo não descansa. No mundo,os jornais já anunciam que o modelo de partilha tem que ser mudado e que os desafios serão tremendos ou mesmo impossíveis.

 Isto significa que a guerra pelo petróleo Brasileiro não termina com o leilão de Libra ela pode estar apenas começando.

 

Nome de santa, pacto com o diabo. (correção)

     Muitos fatores contribuem para a eclosão de uma guerra civil: insatisfações, dívidas insuportáveis e divergências irredutíveis, causadas principalmente por injustiças. Sob esse último fator, poucas pessoas terão criado tantas divergências irredutíveis como a Ministra dos Direitos Humanos (só dos malfeitores).  Essa mulher  desprezível, inconseqüente, no fundo age contra o Governo. Ou vive  em outro planeta, ou o mais provável, é conivente com o crime. Entretanto, não deve ser acusada do que não fez pois em nosso comentário anterior, erron eamente, escrevemos que ela teria, com lagrimas nos olhos condenado a violência de um policial, que se arriscando, enfrentou e baleou um assaltante armado”. Em consequencia efetuamos comentários desairosos sobre tal fato, que nos pareceu emblemático. Em nome da justiça devemos reconhecer que o fato não ocorreu, mas foi inventado por um blogueiro movido pela mesma aversão que sinto pelas atitudes dela, mas lamentavelmente carente de caráter suficiente para falar só a verdade.

Ao apresentar nossas desculpas por ter retransmitido um fato inverídico, informamos que tínhamos acreditado naquele momento, não somente pela ampla divulgação do fato na mídia, mas principalmente por nos parecer coerente com as atitudes anteriores da Ministra.

 

Agentes duplos

Há um ano e meio a contra-inteligência da Abin verificou que um de seus agentes estava vendo senhas da estrutura da própria agência. Chamou a Polícia Federal, para fazer o flagrante cartorial. O traidor foi preso, demitido do serviço público e está respondendo o processo criminal. Agora, identificado outro traidor, certamente maior, que passou informações a um espião norte-americano e o que aconteceu? Aparentemente nada! O jornal O Estado de São Paulo publicou que a direção da Abin recomendara a aposentadoria do agente 008997, sem abrir sequer uma sindicância para apurar o acontecimento.Comose toleraque um agente nosso espione para o estrangeiro e se deixa passar por isto mesmo, principalmente depois das denúncias de Snowden sobre o esquema de espionagem em cima do nosso País ?

Tal ”clemência” naturalmente causou estranheza. A compartimentação existente em todos Serviços de Inteligência não nos permite saber com precisão o que realmente aconteceu e se o soubéssemos não revelaríamos, mas vale a pena esclarecer aos leigos o como os serviços de todo o mundo, teoricamente, costumam agir quando pegam um traidor.

O setor de Contra-Inteligência procura frustrar a obtenção de dados pelas agencias hostis e naturalmente, identificar e capturar os agentes do inimigo. Esta luta contra a informação estrangeira é tão importante para o corpo nacional quanto a luta contra um vírus no organismo. Necessariamente pode vir a ser cruel. Pode um organismo poupar um vírus? Até que ponto poderemos nós escolher os meios de combate ao vírus em função da questão moral, se tanto o organismo como a nação exigem eficácia imunizante?

Muitos são os meios que se servem os agentes da “contra” para descobrir as traições em seu próprio meio, mas a maior eficiência tem sido obtida por informações de agentes estrangeiros capturados ou oferecidos, como é o caso do Snowden, quaisquer que sejam os motivos da cooperação..

O que acontece quando um traidor é identificado? Em tempo de paz tem que ser tomada uma decisão entre eliminá-lo, usá-lo ou submetê-lo a julgamento.

A crença geral é que só se raciocina com as opções mais violentas, mas os peritos da “Contra” costumam ter opinião diferente; um traidor identificado pode ter grande utilidade caso sua identificação não seja conhecida pelo inimigo. Pode ser convencido a cooperar para transmitir informações falsas, seja por remuneração, seja para livrar-se de torturas, e se compensar poderá ser permitido que abandone o Serviço sem alarde. Claro, não havendo possibilidade de utilização, é melhor que morra de morte natural. Um julgamento costuma ser reservado para quando o assunto já é de domínio público ou quando se deseja fazer propaganda ou ainda uma troca.

O que aconteceu na realidade não sabemos e se soubéssemos não divulgaríamos, mas apesar de considerarmos a ABIN mal estruturada e mal dirigida, sabemos que tem gente capaz. Ela não faria tais erros grosseiros. Esses talvez sejam feitos por quem não a sabe utilizar.

 Que Deus abençoe o nosso País

Gelio Fregapani

ADENDO

 

Apenas um alerta ainda sem confirmação, mas o xisto no Brasil sempre se mostrou inviável economicamente, entretanto, naquele país do norte, parece que, por um passe de mágica, ele é fantasticamente viável. Que sorte a deles. GF

 (recebido de José Neto)

O texto não aborda, e ninguém mostra o balanço energético da produção de gás de xisto (gasta energia demasiada para ser produzido). Além do mais usa petróleo na forma de detergente.

 

Nafeez Mosaddeq Ahmed: A grande farsa do gás de xisto

 

Se acreditarmos nas manchetes da imprensa norte-americana anunciando um boom econômico graças à “revolução” do gás e do petróleo de xisto, o país já estará banhando em ouro negro. O relatório de 2012, “Perspectivas energéticas mundiais”, da Agência Internacional de Energia (AIE), informa que por volta de 2017 os Estados Unidos arrebatarão à Arábia Saudita o primeiro lugar na produção mundial de petróleo e conquistarão uma “quase autossuficiência” em matéria energética.
Por Nafeez Mosaddeq Ahmed*


Segundo a AIE, a alta programada naprodução de idrocarbonetos, que passaria de 84 milhões de barris/dia em 2011 para 97 milhões em 2035, proviria “inteiramente dos gases naturais líquidos e dos recursos não convencionais” – sobretudo o gás e o óleo de xisto –, ao passo que a produção convencional começaria a declinar a partir de 2013.

Extraídos por fraturamento hidráulico(injeção sob pressão de uma mistura de água, areia e detergentes para fraturar a rocha e deixar sair o gás), graças à técnica da perfuração horizontal (que permite confinar os poços à camada geológica desejada), esses recursos só são obtidos ao preço de uma poluição maciça do ambiente. Entretanto, a sua exploração n os Estados Unidoscriou várias centenas de milhares de empregos, oferecendo a vantagem de uma energia abundante e barata. Conforme o relatório de 2013, “Perspectivas energéticas: um olhar para 2040”, publicado pelo grupo ExxonMobil, os norte-americanos tornar-se-ão exportadores líquidos de hidrocarbonetos a partir de 2025 graças aos gases de xisto, num contexto de forte crescimento da procura mundial do produto.


Mas e se a “revolução dos gases de xisto”, longe de robustecer uma economia mundial convalescente, insuflar uma bolha especulativa prestes a explodir? A fragilidade da retoma, tanto quanto as experiências recentes, deveria convidar à prudência perante tamanho entusiasmo. A economia espanhola, por exemplo, outrora tão próspera – quarta potência da zona do euro em 2008 –, está hoje em maus lençóis depois de a bolha imobiliária, à qual se agarrava cegamente, ter explodido sem aviso prévio. A classe política não aprendeu muito com a crise de 2008 e está a ponto de repetir os mesmos erros no campo das energias fósseis.

Em junho de 2011, uma investigação do New York Times revelava já algumas fissuras no arcabouço mediático-industrial do boom dos gases de xisto, atiçando assim as dúvidas alimentadas por diversos observadores – geólogos, advogados, analistas de mercado – quanto aos efeitos da publicidade das companhias petrolíferas, suspeitas de “sobrestimar deliberadamente, e mesmo ilegalmente, o rendimento de suas explorações e o volume de suas jazidas”(1). “A extração do gás do xisto existente no subsolo”, escreveu o jornal, “poderia revelar-se menos fácil e mais cara do que afirmam as empresas, como se vê pelas centenas de e-mails e documentos trocados pelos industriais a esse respeito, além da s análises dos dados recolhidos em milhares de poços.”

No início de 2012 dois consultores norte-americanos soaram o alarme na Petroleum Review, a principal revista britânica da indústria petrolífera. Incertos quanto à “confiabilidade e durabilidade das jazidas de gás de xisto norte-americanas”, observam que as previsões dos industriais coincidem com as novas regras da Security and Exchange Commission (SEC), o organismo federal de controlo dos mercados financeiros. Adoptadas em 2009, essas regras autorizam as empresas a calcular o volume de suas reservas como bem entendam, sem precisar da verificação de uma autoridade independente(2).

Para os industriais, sobrestimar as jazidas de gás de xisto permite colocar em segundo plano os riscos associados à sua exploração. Ora, o fraturamento hidráulico não apenas tem efeitos prejudiciais sobre o meio ambiente como coloca um problema estritamente económico, uma vez que gera uma produção de vida muito curta. Na revista Nature, um ex-consultor científico do governo britânico, David King, esclarece que o rendimento de um poço de gás de xisto diminui de 60% a 90% após seu primeiro ano de exploração (3).

Uma queda tão significativa torn a evidentemente ilusório qualquer objetivo de rentabilidade. Depois de um poço se esgotar, os operadores devem escavar imediatamente outros para manter seu nível de produção e pagar as suas dívidas. Sendo a conjuntura favorável, essa corrida pode iludir durante alguns anos. Foi assim que, combinada com uma atividade económica decrescente, a produção dos poços de gás de xisto – frágil a longo prazo, vigorosa por algum tempo – provocou uma baixa espetacular dos preços do gás natural nos Estados Unidos: de US$ 7 ou 8 por milhão de BTU (British Thermal Unit) para menos de US$ 3 ao longo de 2012.

Os especialistas em aplicações financeiras não se deixam enganar. “A economia do fraturamento é destrutiva”, adverte o jornalista Wolf Richter na Business Insider (4).“A extração devora o capital a uma velocidade impressionante, deixando os exploradores em cima de uma montanha de dívidas quando a produção cai. Para evitar que essa diminuição engula seus lucros, as companhias devem prosseguir bombeando, compensando poços esgotados com outros que se esgotarão amanhã. Cedo ou tarde esse esquema choca-se contra uma parede, a parede da realidade.”


Arthur Berman, um geólogo que trabalhou para a Amoco e a British Petroleum, confessa-se surpreso com o ritmo “incrivelmente acelerado” do esgotamento das jazidas. E, dando como exemplo o sítio de Eagle Ford, no Texas – “É a mãe de todos os campos de óleo de xisto” –, revela que “a queda anual da produção ultrapassa os 42%”. Para garantir resultados estáveis, os exploradores terão de perfurar “quase mil poços suplementares todos os anos no mesmo sítio. Ou seja, uma despesa de US$ 10 biliões a 12 biliões por ano… Se somarmos tudo, isso equivale ao montante inves tido para salvar a indústria bancária em 2008. Onde arranjarão tanto dinheiro?”(5).

A bolha do gás já produziu os seus primeiros efeitos sobre algumas das maiores empresas petrolíferas do planeta. Em Junho último, o diretor-presidente da Exxon, Rex Tillerson, queixou-se de que a queda dos preços do gás natural nos Estados Unidos era sem dúvida uma boa notícia para os consumidores, mas uma maldição para sua companhia, vítima da diminuição drástica dos lucros. Se, diante dos acionistas, a Exxon continuava fingindo que não perdera um centavo por causa do gás, Tillerson desfiou um discurso quase lacrimoso diante do Council on Foreign Relations (CFR), um dos fóruns mais influentes do país: “Logo, logo, perderemos até as calças. Não ganhamos mais dinheiro. As contas estão no vermelho” (6).

Mais ou menos na mesma ocasião, a companhia de gás britânica BG Group encontrava-se às voltas com “uma depreciação de seus ativos referentes ao gás natural norte-americano da ordem de US$ 1,3 bilhão”, sinónimo de “queda sensível em seus lucros intermediários” (7). No 1º de Novembro de 2012, depois de a empresa petrolífera Royal Dutch Shell ter amargado três trimestres de resultados medíocres, com uma perda acumulada de 24% num ano, o serviço de informações da Dow Jones divulgou essa notícia funesta, alarmando-se com o “prejuízo” causado ao conjunto do sector de ações pela retração do gás de xisto.

Da panaceia ao pânico

A bolha não poupa sequer a Chesapeake Energy, que, no entanto, é a pioneira na corrida aos gases de xisto. Esmagada por dívidas, a empresa norte-americana precisou vender parte de seus ativos – campos e gasodutos a um valor total de US$ 6,9 bilhões – para honrar os seus compromissos com os credores. “A empresa está a andar um pouco mais devagar, muito embora o seu CEO a tenha transformado num dos líderes da revolução dos gases de xisto”, deplorou o Washington Post (8).

Como puderam cair tanto os heróis dessa “revolução”? O analista John Dizard observou, no Financial Times de 6 de Maio de 2012, que os produtores de gás de xisto haviam gasto quantias “duas, três, quatro ou mesmo cinco vezes superiores aos seus fundos próprios a fim de adquirir terras, escavar poços e levar a bom termo os seus projeto s”. Para financiar a corrida do ouro foi necessário pedir emprestadas somas astronómicas “em condições complexas e exigentes”, lembrando que Wall Street não se afasta nunca de suas normas de conduta habituais. Segundo Dizard, a bolha do gás deveria, porém, continuar a crescer devido à dependência dos Estados Unidos desse recurso economicamente explosivo. “Considerando-se o rendimento efémero dos poços de gás de xisto, as perfurações devem prosseguir. Os preços acabarão por se ajustar a um nível elevado, e mesmo muito elevado, para cobrir não apenas dívidas antigas, mas também custos de produção realistas.”


Não se descarta, contudo, que diversas companhias petrolíferas de grande porte se vejam simultaneamente na iminência da ruína financeira. Caso essa hipótese se confirme, diz Berman, “assistiremos a duas ou três falências ou operações de compra de enorme repercussão; cada qual resgatará os seus papéis, os capitais evaporar-se-ão e teremos o pior dos cenários”.

Em suma, o argumento segundo o qual os gases de xisto protegeriam os Estados Unidos ou a humanidade contra o “pico do petróleo” – nível a partir do qual a combinação das pressões geológicas e econômicas tornará a extração do produto bruto insuportavelmente difícil e onerosa – não passa de um conto de fadas. Diversos relatórios científicos independentes, divulgados há pouco, confirmam que a “revolução” do gás não trará nenhum alívio nessa área.

Num estudo publicado pela revista Energy Police, a equipe de King chegou à conclusão de que a indústria petrolífera sobrestimou em um terço as reservas mundiais de energia fóssil. As jazidas ainda disponíveis não excederiam 850 biliões de barris, enquanto as estimativas oficiais falam de mais ou menos 1,3 trilhão. Segundo os autores, “imensas quantidades de recursos fósseis permanecem nas profundezas da terra, mas o volume de petróleo explorável pelas tarifas que a economia mundial tem o costume de suportar é limitado, devendo além disso, diminuir a curto prazo” (9)


A despeito dos tesouros em gás arrancados do subsolo por fraturamento hidráulico, a diminuição das reservas existentes prossegue num ritmo estimado entre 4,5% e 6,7% por ano. King e seus colegas repelem, pois, categoricamente a ideia de que o boom dos gases de xisto poderá resolver a crise energética. Por sua vez, o analista financeiro Gail Tverberg lembra que a produção mundial de energias fósseis convencionais não aumentou depois de 2005. Essa estagnação, na qual vê uma das causas principais da crise de 2008 e 2009, anunciaria um declínio susceptível de agravar ainda mais a recessão atual – com ou sem gás de xisto (10). E não é tudo: numa pesquisa publicada em conjunto com o relatório da AIE, a New Economics Foundation (NEW) prev ê que o pico do petróleo será alcançado em 2014 ou 2015, quando os gastos com a extração e o abastecimento “ultrapassarão o custo que as economias mundiais podem assumir sem causar danos irreparáveis às suas atividades” (11).

Submersos pela retórica publicitária dos lobistas da energia, esses trabalhos não chamaram a atenção dos media nem dos políticos. É lamentável, pois podemos entender perfeitamente a sua conclusão: longe de restaurar a prosperidade, os gases de xisto inflam uma bolha artificial que camufla temporariamente uma profunda instabilidade estrutural. Quando ela explodir, provocará uma crise de abastecimento e um aumento de preços que talvez afetem dolorosamente a economia mundial.

* Nafeez Mosaddeq Ahmed é cientista político e diretor do Institute for Policy Research and Development, Brighton, Reino Unido